Primeiro veio o colorido nos acessórios masculinos. Depois, os tons fortes tomaram conta da roupa do homem – promovendo combinações ousadas. Agora, além de colorido, o figurino promete ficar mais estampado. Foi o que mostrou a última temporada de moda masculina, na Europa. E é também o que preconiza a primeira coleção de tecidos planos, malhas e estampas, exclusivamente masculina, da tecelagem Santaconstancia.
Reconhecida por seus tecidos tecnológicos e pela malharia sempre atrelada à moda internacional, a Santaconstancia vai agora atender a uma demanda do mercado de moda masculina. “Os homens estão mudando os seus conceitos de bem vestir”, afirma Gabriella Pascolato Costa, diretora da fábrica.
Gabriella é neta da fundadora da Santaconstancia, de quem herdou o nome, e sobrinha de Costanza Pascolato, consultora de moda que dispensa apresentação – e que exerce o cargo de diretora de estilo da Santaconstancia. Diante dos novos anseios masculinos, a empresa faz o seu “début” no segmento dos tecidos planos para alfaiataria e camisaria, além de malharia para a moda íntima e esportiva.
O momento parece ideal. De acordo com Alessandro Pascolato, presidente da Santaconstancia, o setor de vestuário vem mudando há algum tempo. Se antes a camisaria masculina de qualidade era forçosamente feita de tecidos de algodão ou seda com os fios tintos, hoje a tecnologia de estamparia permite aplicar desenhos nas mais diversas bases. Isso abriu possibilidades para o consumidor incluir maior variedade no guarda-roupa. “Antes, o armário de camisas de um executivo era composto basicamente de peças iguais – feitas de tecido com fios tintos”, diz Pascolato. “Agora, o homem pode sair do comodismo”.
Sair do comodismo e do machismo, na opinião de Costanza, uma observadora experiente da moda nacional e internacional. “Acredito que o homem esteja se desligando da formalidade e ficando cada vez mais casual”, diz a consultora, cuja equipe de estilo vem percorrendo o país para pesquisar os hábitos do consumidor. “Percebemos que eles estão usando mais cores e dispostos a abrir mão do terno e da gravata”. E como resposta a esse comportamento, a tecelagem vem investindo em inovações, o que inclui uma linha de jeanswear estampado.
São duas frentes de produção: uma para fabricar o denim propriamente dito (tecido de algodão rústico, com o corante índigo) e outra frente para produzir malharia e tecidos feitos com diferentes fibras (como a viscose) que ganham a aparência de jeans graças à aplicação do corante índigo. “Esse é um novo mercado para nós”, diz Costanza. E uma fonte inesgotável de criação.
E é na criação de novas estampas para o vestuário masculino que a empresa aposta as suas fichas. Entre as tendências mais fortes detectadas pela Santaconstancia está a “college”. Diretamente ligada ao comportamento jovem, ela gerou um grupo de tecidos com estampa xadrez, listrados, camuflados e com desenhos que remetem ao mundo da arte de rua e do grafite.
A tendência, chamada de “folk”, também deve emplacar no guarda-roupa masculino nas próximas estações, de acordo com as apostas da empresa. Nessa família, entram tecidos com tons terrosos e estampas que recriam as folhagens de outono. Entram aí também as padronagens étnicas e que lembram roupas típicas de povos antigos.
Estampas abstratas, sobre bases cinzentas e neutras, além dos desenhos românticos e delicados completam a família de possibilidades capazes de tirar o homem do conforto do terno azul-marinho e da camisa branca de listras finas. Nesse grupo de tecidos da Santaconstancia, entram padronagens miúdas que, quando visto de longe, deixa o tecido com aparência de liso.
E ao contrário do que se possa imaginar, essa profusão de estampas que redefinem o guarda-roupa do consumidor contemporâneo não é exatamente uma novidade. Homens sempre se vestiram para mostrar poder, estirpe e riqueza. “Isso nada mais é do que voltar às origens”, diz o estilista e professor de história da moda João Braga. “O homem sempre se enfeitou mais do que a mulher, da mesma forma que, na natureza, os machos são mais vistosos do que as fêmeas”. Basta uma olhada nos trajes da corte francesa, com Luís XIV, para confirmar o fato. Em pinturas do século XVII, é possível ver o Rei da França de casaco e colete de seda bordada, calças bufantes e cabelos compridos. Nada discreto, portanto.
É difícil prever se a moda vai voltar tão longe a ponto de fazer os homens se encherem de fru-frus. Mas pelo andar da carruagem, é bom se acostumar em ver pavões desfilando por aí.