Existe algum guarda-roupa que não tenha uma única peça jeans? Difícil imaginar, não? Pois é. Entre todos os tecidos já inventados, nenhum outro é tão popular no mundo como o jeans. Desde que foi criado no século 19, mas precisamente em 1872, pelo alemão Levi Strauss em parceria com o costureiro Jacob deReno, o artigo ultrarresistente e estiloso só aumenta sua popularidade, ganhando efeitos e acabamentos infindáveis para vestir pessoas de todas as classes sociais nos quatros cantos do planeta.No Brasil, o consumo das peças só aumenta. Segundo o Estudo do Mercado Potencial de Jeanswear no Brasil, lançado no início deste ano pelo Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), o segmento de jeanswear é o que mais cresceu entre todos os artigos de vestuário produzidos no país. De 2009 a 2013, a produção de jeans no Brasil apresentou forte crescimento em volumes de peças confeccionadas, num ritmo superior a 6% ao ano, registrando um crescimento acumulado de 29% no período. “A partir desses dados, foi possível concluir que essa elevação superou a expansão da produção de vestuário em geral no país, que registrou, no mesmo período, expansão acumulada de 3,9% em peças ou 1% ao ano”, afirma Marcelo Prado, diretor do Iemi. A força do segmento ganha mais visibilidade quando se analisa o setor de confecções.Em 2013, foram fabricados 365,1 milhões de peças de jeans.O estudo do Iemi mostra ainda que o segmento de jeanswear tem hoje 6,6 mil empresas produtoras, que representam 25,6% do total de confecções de vestuário em geral. A maior concentração está no Sudeste, mas há também
grande atuação no Sul e no Nordeste do país. Estados como Paraná, Pernambuco e Ceará destacam-se na produção de índigo.
Para 2014, as estimativas para a produção de jeanswear também são favoráveis. A taxa prevista de crescimento é de 3,7%, enquanto para o vestuário em geral são de alta de 2,1%. Isso significa que a participação desse produto no mix geral do vestuário subiu de 4,8% das peças confeccionadas para 5,9%.No próximo ano, as projeções indicam que o produto deve continuar aumentando sua participação dentro da produção da indústria nacional.Apesar da boa maré, quem deseja alçar voos maiores neste mercado precisa ficar atento, especialmente as confecções. “Este é um segmento que tem uma base produtora muito forte, com tecelagens bastante competitivas em desenvolvimento de produto. Juntas, elas conseguem prover bem a indústria do vestuário. No entanto, como as confecções enfrentam grande concorrência, para evoluir é fundamental melhorar os modos de distribuição e aproveitar melhor as oportunidades que surgem. É preciso entender cada vez melhor as necessidades do público-alvo”, adverte Prado.
IMPORTAÇÃO X EXPORTAÇÃO
Mesmo com as boas notícias na comercialização de jeanswear, as importações cresceram de modo significativo nos últimos anos. Uma das razões que favoreceram isso foi a forte valorização do real diante do dólar americano. “Isso afetou a competitividade dos produtos industrializados no país frente aos importados”, aponta Marcelo Prado. A participação do jeanswear importado deve alcançar 8% do volume total consumido no país em 2014. A médio prazo, com o retorno da taxa de câmbio favorável a uma posição de maior equilíbrio, espera-se que o Brasil recupere, inclusive, a capacidade de exportar parte de sua produção, desde que ela se baseie em conceitos consistentes de marca, inovação e brasilidade. “O Brasil ainda é muito competitivo na produção de peças originais de médio e alto valor agregado, mas não há como competir lá fora, oferecendo cópias de produtos europeus e norte-americanos a preços baixos. Essa estratégia é privilégio dos asiáticos”, pontua o diretor do Iemi.
Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e coordenador do Comitê de Denim da mesma instituição, também analisa o quadro atual. “Estamos entre os três maiores fabricantes de denim do planeta. É um setor pujante que tem participação ativa em todos os elos da cadeia produtiva. Contudo, ainda que tenha havido crescimento favorável e vultosos investimentos em tecnologia nos últimos dez anos, o setor tem sido afetado pela crise do país. Prova disso é essa elevação das importações, que crescem continuamente devido à concorrência desleal que sofremos das importações asiáticas. Os marcos regulatórios brasileiros − que deveriam barrar com rigor o que é ilegal − são tênues demais e,ainda assim, descumpridos”, ressalta Pimentel.Para fortalecer o setor e auxiliar os produtores nacionais, há 12 anos foi criado o Comitê de Denim, que mensalmente se reúne na Abit. Composto dos maiores fabricantes do tecido, o comitê promove discussões sobre mercado interno, comércio exterior e defesa comercial. “O comitê tem como proposta debater e movimentar o setor. Nossa luta hoje é pela evolução do marco regulatório. Como diminuiu o ritmo da economia brasileira, isso impacta também o varejo, o que representa um grande risco para toda a cadeia. Temos de trabalhar duro para mudar essa realidade”, enfatiza Pimentel.
MUITO ALÉM DA MATÉRIA-PRIMA
O mercado nacional está muito bem servido quando o assunto é jeans.O Brasil é um dos principais produtores desse tipo de tecido no mundo e sua capacidade instalada de produção está acima de 600 milhões de metros lineares por ano. Entre os maiores fabricantes do país, está a Vicunha Têxtil. A empresa brasileira virou referência em índigos e brins depois que decidiu entrar para valer no universo blue em 1980.Após vastas pesquisas sobre a aceitação do produto, a companhia percebeu que esse era um mercado altamente promissor.“Em 1990, começamos também a produção de brim, aumentando assim a atuação no mercado de jeanswear. Hoje, o grupo Vicunha produz aproximadamente 200 milhões de metros de tecido por ano, entre índigos e brins, lisos e estampados.Nossas linhas de índigos e brins atendem a todos os tipos de segmento: do simples ao sofisticado, com uma diversidade de estruturas, tingimentos e acabamentos que resulta em produtos versáteis e, sobretudo, de alto valor agregado”, conta Anna Maria Kuntz, diretora-executiva da marca. Para se manter competitiva, a empresa não poupa investimentos em inovação. A busca por tecidos cada vez mais versáteis e tecnológicos não para nunca. Alto poder de stretch, azuis diferenciados e acabamentos especiais, como os resinados e metalizados, encabeça mas preferências das confecções.
Todos esses esforços em criação e tecnologia compensam. Em 2013, a receita da Vicunha chegou a R$ 1,3 bilhão. A companhia, cuja sede está localizada em São Paulo (SP), tem hoje unidades fabris nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte, além de duas fábricas no exterior, localizadas na Argentina e no Equador. Com investimentos constantes em qualidade, a empresa já conquistou as certificações ISO 9001 e ISO 14001, além do selo verde Oeko-Tex. “Estamos orgulhosos de nossos resultados. Em 2013, a Vicunha apresentou crescimento de 20% em sua produção. Esperamos crescer este ano na mesma proporção, superando as expectativas de nossos clientes. O objetivo é atender com excelência as demandas nacionais e internacionais”, completa Anna.
Outra gigante do setor é a Tavex Corporation, uma das líderes mundiais na produção de denim. A fusão em 2006 entre Tavex (Espanha, 1846) e Santista Textil (Brasil, 1929) provocou grande impacto no mercado. Ambas as empresas, que,separadamente, já tinham na bagagem um histórico de mais de 160 anos na produção de denim, juntas só poderiamangariar uma grande fatia de consumidores. Hoje, a Tavex está em 50 países, contabilizando oito fábricas com produção própria estabelecidas na Argentina, Brasil, Espanha, Marrocos e México.Lilian Kurosaki, gerente de marketing da Tavex, explica qual é o foco da companhia:“A moda é que faz as necessidades do consumidor final. Por isso, nos apresentamos como uma empresa de moda que presta inúmeros serviços. Nossos clientes contam com equipes preparadas para auxiliá-los em todos os processos dessa indústria. Isso significa que, ao comprar qualquer um dos nossos itens,o cliente recebe o serviço completo: produtos, moda, lavanderia e confecção”. Atualmente, a multinacional produz ao ano 150 milhões de metros de denim, ofertando cerca de 300 artigos diferentes. Somente a unidade de negócio Jeanswear tem hoje aproximadamente 2.300 profissionais. No mercado europeu, a multinacional trabalha com marcas consagradas, como Diesel e G-Star. Já no Brasil, abastece fábricas da Colcci, Ellus, CK, além de marcas regionais, grandes varejistas e magazines.Sem revelar números de vendas, Lilian diz que a estratégia da Tavex não está direcionada à produção. “Nosso foco não é a capacidade produtiva, mas sim desenvolver e ofertar produtos e serviços diferenciados”, ressalta. Segundo ela, a crise econômica que o país vive não afetará a marca. “No início de 2014, o mercado estava bastante retraído com o varejo. No entanto, acreditamos na retomada. Em nosso mais recente lançamento de coleção, apresentamos 16 novidades que foram muito bem aceitas. Realizamos sempre dois lançamentos ao ano para oferecer o melhor produto aliado à melhor oferta de serviços para toda a cadeia produtiva. Por essa razão, contamos com equipes multidisciplinares que agregam conhecimento e praticidade ao cliente Tavex”, acrescenta Lilian.
Com 142 anos de existência, a mineira Cedro Têxtil também é uma das principais fornecedores de denim do país. A empresa, que começou a produzir brim e denim no fim dos anos 70, oferece agora mais de 40 opções do produto em cada coleção. Foi a partir dos anos 90 que ela direcionou seus negócios para a produção das linhas Denim, Colours, Prints e Profissional (workwear). Com quatro unidades fabris no Brasil, a Cedro produz hoje 90 milhões de metros lineares de tecidos por ano. A forte produção de jeanswear está apoiada em quatro famílias de produtos, como esclarece Cassia Silveira, gerente da linha Denim. “Temos o Yu Power Elastic, que são tecidos com potencial de stretch acima de 35%, para atender à demanda feminina; o Yu Relax, com artigos com 30% de elastano que contemplam tanto o público feminino quanto o masculino; o Yu Light, um denim leve para
camisaria, vestidos e linha infantil; e, por fim, o Yu Fix, denim rígido com 100% algodão que permite melhor resistência ao tecido”, detalha.Na última edição do Denim by Première Vision, que aconteceu em maio em Barcelona, na Espanha, a Cedroapresentou a coleção outono-inverno 2015-2016. “Foi uma excelente oportunidade de expor nossos artigos ao lado dos mais importantes produtores do mundo. Comprovamos que estamos alinhados às principais tendências e tecnologias do setor”, acrescenta Cássia.
Aliás, tecnologia não falta para encantar os clientes da tecelagem mineira. Em meio a tanta competição, a Cedro resolveu se diferenciar ao lançar um aplicativo gratuito para celulares e tablets. Com ele, os confeccionistas conhecem o que há de mais recente nos processos de lavanderia para jeanswear. O aplicativo traz ainda “receitas” de lavagens especiais, contatos de todas as lavanderias homologadas pela companhia e acesso a vídeos sobre lançamentos e eventos. Além dos benefícios diretos da tecnologia, a cada temporada a empresa promove apresentações nos polos confeccionistas do país, levando de perto as tendências mundiais.E não para por aí. A empresa concede ainda consultoria técnica e de estilo, além de distribuir publicação com os hits da temporada.
“O nosso compromisso com os clientes começa antes dos pedidos, quando já oferecemos orientação técnica e de moda para que suas escolhas sejam adequadas ao perfil de seu público”, declara Oto Rafael Arantes, gerente comercial de moda da marca.Os números revelam que as estratégias adotadas até o momento geraram resultados satisfatórios.No ano passado, a receita bruta da Cedro foi de R$ 707 milhões, o que corresponde a uma alta de 17,4% quando comparada a 2012. Para crescer nos próximos anos, as metas são arrojadas. Até 2017, a tecelagem pretende atingir R$ 1 bilhão de faturamento.
Nesse time de fornecedores audaciosos e de primeira linha, os empresários do vestuário têm mais uma opção: a Têxtil Canatiba, que há 45 anos trabalha para satisfazer as reais necessidades dos confeccionistas. “O mercado jeanswear é muito democrático, especialmente com tanta diversificação de produtos. Há cores, pesos e texturas para todos os gostos e isso abre mais espaço a todos os fabricantes”, observa Darci Covolan, diretor comercial da Canatiba. Especializada em denim, a empresa tem 700 produtos em linha, produzindo cerca de 120 milhões de metros de tecido por ano. O diretor comercial da marca conta como o negócio evoluiu:“Quando iniciamos em 1969, éramos muito pequenos. Não possuíamos nem sequer uma linha própria de produtos. Nessa época, tínhamos capacidade para apenas 50 mil metros de tecido por mês. Quando iniciamos com o denim, em 1980, saltamos para uma produção de 600 mil metros mensais. Hoje, a capacidade produtiva é 10 milhões de metros por mês. Esse salto só foi possível porque criamos uma base competitiva calcada em três pilares: inovação, altíssima qualidade e preço justo”, afirma Covolan. A exportação dos artigos está no cotidiano da empresa. Cerca de 5% da produção segue para os continentes americano e europeu. A bola da vez são os denins leves que oferecem grande conforto aliado a um visual moderno. Entre eles, está o Haven Denim Sportivo. Maquinetado em 100% algodão, pode ser confeccionado tanto do lado direito quanto do avesso.
Enquanto as tecelagens se esmeram para suprir bem o segmento do vestuário, as confecções, por sua vez, não deixam por menos. Diferentemente do que muita gente imagina, não são apenas as grifes caras e famosas que conseguem formar um público cativo e rentável. Marcas que não são conhecidas do grande público crescem de modo significativo mesmo longe do glamour das passarelas. É o caso da Loony Jeans. Criada há 37 anos, a grife deu seus primeiros passos revendendo para outras marcas. “Com o passar do tempo, sentimos a necessidade de fabricar nossos próprios produtos. Para isso, focamos na qualidade e inovação das peças. Passadas quase quatro décadas, o que nos norteia ainda são os mesmos princípios”, lembra Nelson Junior, gerente comercial da Loony. Seu público-alvo são mulheres de todas as faixas etárias, por isso, a gama de produtos é extensa. Chama atenção a linha Loony Jeans, que traz peças de cós intermediário em tamanhos que variam do 36 ao 48, e, sobretudo, a Loony Special, com roupas plus size, cuja numeração começa no 40 e chega ao 56. “Vendemos 300 mil peças ao ano. Mais de 90% da produção é feita em nossas fábricas, uma localizada em São Paulo e outra em Minas Gerais. Optamos pela terceirização somente em casos específicos, como a produção de blusas e camisas. Nosso maior diferencial é, sem dúvida, a modelagem, desenvolvida levando em consideração as observações que os próprios clientes fazem”, revela Junior.
Com lojas no Brás, Bom Retiro e Moema, a Loony vende tanto no atacado como no varejo. Seus produtos podem ser encontrados também em cerca de 900 lojas multimarcas espalhadas pelo Brasil.Em relação à expansão dos negócios, Junior é otimista: “Crescemos bastante desde a fundação até aqui. Este ano não será diferente. Já estamos, inclusive, preparando a inauguração de nossa quarta loja, que será aberta ainda em 2014”, adianta.
A Parizi Jeans nasceu no Brás, coração do comércio popular de São Paulo. De lá, foi ampliando sua atuação para outras praças, apesar do pouco tempo de vida. Com apenas 11 anos de existência, a marca produz 200 mil peças por mês. Carla Nabhan, coordenadora de marketing, atribui o êxito à experiência dos donos.“Os proprietários da empresa já trabalhavam havia mais de 25 anos na região do Brás. Com vivência no mercado atacadista infantil, eles perceberam uma grande carência de roupas jeans de qualidade e bom preço para crianças e pré-adolescentes. Resolveram, então, investir numa marca própria, aproveitando toda aexpertise já adquirida”. A fabricação das peças é dividida entre produção interna e terceirizada. Todo o desenvolvimento dos produtos e o corte são feitos na própria Parizi. Já a costura e a lavagem seguem para fornecedores especializados nessas etapas. Com vendas direcionadas aos atacadistas, a marca oferece todos os dias cerca de 20 novos produtos.“Ofertamos uma linha dividida em quadro grades, que vai do P ao tamanho 16. Somos hoje considerados um dos maiores atacadistas do Brás. Mudamos muito para satisfazer nossos clientes, em relação tanto às modelagens quanto à qualidade dos tecidos. Atualmente, nossas peças seguem as tendências mundiais da moda, mas nem por isso aumentamos os preços”, destaca a coordenadora de marketing. A Parizi Jeans conta com uma loja própria de atacado e outra virtual. Além disso, possui representantes em todo o país e fornece peças para cerca de 10 mil multimarcas. Mesmo com a realização da Copa do Mundo e das eleições, a marca prevê para este ano um crescimento de 15% comparado com o ano anterior.
Fonte: Revista Costura Perfeita